
Quando astros luminares se encontram, e às vezes eclipsam no céu, é Eros! Quando a seiva sobe ao coração da árvore no início da primavera, é Eros! Quando dois seres se encontram e se abraçam por uma hora que seja, ou por toda vida, é sempre Eros! Como a existência seria triste sem ele! Pode-se, a rigor, não subir ao céu como fez Ícaro, mas não se pode viver plenamente sem Eros.
Sobretudo, não o imaginemo como um bebê rechonchudo, dotado de asas, arco, aljava, que atravessa com suas flechas os infelizes com que ele cruza no caminho. Eis aí uma imagem convencional, edulcorada, que mostra o lento desgaste desse mito. Em sua melhor forma, Eros é um adolescente alado que é mostrado freqüentemente nos vasos, voando sobre o fundo negro do céu, alheio a força da gravidade. Se Eros está sempre nos ares, é porque tem o poder de aliviar o homem daquilo que é pesado, de aliviar o coração do aimant e do ser amado. Por acaso já se observou, em nossa própria língua, a estranheza da aliança, em Eros, entre o amor e a atração que fundamenta toda ambiguidade da palavra aimant? O aimant é, o mesmo tempo, aquele que é atraído e o objeto que atrai (com a homofonia entre aimant, substantivo que significa ímã, e o adjetivo aimant, que significa levado a amar, amoroso, terno, carinhoso). Se os cientista, poetas e filósofos dos tempos antigos tivessem conhecido as leis da atração universal descoberta por Newton, só poderiam ter visto nela uma prova suplementar da existência e do poder de Eros. Porque Eros é a força que faz com que todas as coisas se movam, com que os seres se emocionem.
No entanto, nem todos os filósofos antigos adotaram essa visão positiva, até mesmo salutar, de Eros. No diálogo de Platão, O Banquete, dedicado ao amor, Sócrates evoca um personagem feminino dos mais inesperados, uma mulher de Mantinéia chamada Diotima, que sugere uma visão do amor - e de seus efeitos - inteiramente diferente da visão clássica.
Eros, ela ensina a Sócrates - que parecia ignorá-lo -, é filho de Expediente e Pobreza, concebido durante as festas pelo nascimento de Afrodite. Ele não é, portanto, um deus, mas um gênio, uma criatura intermediária entre o céu e a terra, e entre os deuses e os homens. Um gênio sempre à procura do objeto amado, "que não tem nada de delicado ou agradável, como muitos pensam. Ao contrário, é sujo e brutal, um verdadeiro vagabundo errante, deitado aqui e ali no chão, ou dormindo nas soleira das portas ou nas entradas. Em resumo, vem de sua mãe, Pobreza, o fato de viver em perpétua indigência. Por outro lado, graças à natureza do pai, ele procura sempre o que é belo e bom, é perseverante, teimoso, sempre pronto a tramar alguma coisa, interessado em sabe e aprender, gostando de filosofar e sendo até um pouco bruxo, mágico e sofista. Não é nem mortal nem imortal. Num mesmo dia, pode resplandecer na abundância, morrer de saciedade e renascer, graças ao que recebeu do pai. Tudo que ele toca desaparece sem cessar, de tal modo que Eros está sempre entre a indigência e a opulência."
Isso muda a imagem cupidínea dos poetas românticos! Mas alguns autores antigos - e notadamente os dos hinos órficos - apresentam uma imagem totalmente diversas da natureza e dos poderes de Eros. No hino órfico que lhe é consagrado, é celebrado, incensado como o "detentor das chaves do universo", aquele que " tem nas mãos o timão do mundo".
É essa a figura que é adotada por Jacques Lacarrière, pois, saibam todos: em máteria de amor, prefere-se a imagem do grande Timoneiro cósmico à do andarilho insone.
Um comentário:
Olá meu amigo querido !!!Passei para deixar um beijinho e vou me tornar sua seguidora viu , entãoo escrevaaa muitooooo....
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